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Pelo direito de torcer: a luta contra a homofobia quer sair das redes sociais

A atleticana Sara foi hostilizada na Arena da Baixada e ouviu que “lugar de sapatão é no cemitério”. Maurício não podia comemorar o gol do Flamengo com o seu parceiro no estádio. Fissurado pelo Bahia, Onã cansou de ler palavras agressivas e de ódio nas redes sociais. Os cruzeirenses Yuri e Warley receberam centenas de comentários homofóbicos e ameaças depois de terem sido filmados abraçados no Mineirão.

Todos estes cinco torcedores têm muito em comum. Apaixonados pelos seus clubes, eles frequentam estádios e dividem histórias de luta contra o preconceito e a homofobia. Juntos, eles tentar superar o medo e reforçam a necessidade da inclusão, da importância do debate e de um ambiente seguro e acolhedor para viver. Para poder demonstrar o amor com liberdade. Pelo simples direito de torcer. Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexo), o GloboEsporte.com conversou com vários líderes de grupos de torcedores LGBTQs do Brasil para mostrar suas pautas, a situação que se vive hoje e o que eles querem - e esperam - dos clubes de futebol. O maior grupo é o “LGBTricolor”, do Bahia, fundado por Onã Rudá em agosto do ano passado. Com o objetivo de envolver e aproximar o Bahia cada vez mais dos seus torcedores LGBTs, a iniciativa tem o apoio do clube, que tem se notabilizado pelo engajamento constante a movimentos e causas sociais. No ano passado, o posicionamento do Tricolor rendeu destaque no jornal inglês The Guardian. - É muito bacana porque o Bahia faz o que deveria ser feito por todos os clubes. Quando o Bahia se posiciona a gente pode travar o debate sobre a questão LGBT. O clube está imbuído na tarefa de fazer mais, de empregar pessoas LGBTs, sendo que outros clubes não fazem nem isso, que é o básico. Como LGBT, percebo onde temos que chegar. Olho para o Bahia e vejo que ainda falta muita coisa, Mas, diante do todo, é muito – disse Onã.

Quando o estudante de jornalismo decidiu criar o grupo, inicialmente no WhatsApp, se surpreendeu com a adesão de torcedores LGBTQs, mas também precisou lidar com inúmeros ataques que recebeu nas redes sociais.

- Foi inacreditável, apareceram mais de 700 pessoas em vários grupos. E também os ataques. Mas foi importante porque eu entendi que a pauta tinha adesão, que poderíamos sair de um movimento que estávamos começando e fundar, de fato, a torcida. Peguei todos os comentários positivos e apostei nisso. Preferi acreditar na esperança, no que é possível. E, de resto, ignorar. Não daremos ouvidos.

Há quase um ano, a “LGBTricolor” tenta produzir e vender uma camisa do Bahia com as cores da bandeira LGBT, ação que tem esbarrado nos entraves sobre licenciamento e utilização da marca oficial do clube.

Engajado no combate à LGBTfobia, Onã também liderou a criação do Coletivo Nacional de Torcidas LGBTQ Canarinhos Arco Íris, em outubro no ano passado, com 14 grupos de torcedores LGBTs de clubes brasileiros. A ideia é atuar como redes de sociabilização e proteção para seus membros nos estádios, fortalecimento, ampliação e participação das torcidas LGBTQs no cotidiano dos clubes, e principalmente a luta contra o discurso homofóbico no ambiente do futebol.

Estamos num processo de construção. É um ambiente complexo porque os torcedores LGBTQs não vão frequentar os estádios da noite para o dia. Eu pago o meu sócio, por que não posso ir ao estádio? Nos articulamos pelas redes, mas não é fácil. O ambiente de futebol é visto como violento. Estamos crescendo e fazendo o que podemos para ter mais visibilidade.

Em janeiro, o coletivo apresentou uma série de medidas aos clubes e entidades como CBF, STJD, Secretaria do esporte, Procuradoria Geral da República (PGR), entre outros, para o combate à LGBTfobia no futebol brasileiro, garantindo a segurança de torcedores LGBTs nos estádios. Onã explica que o resultado das ações tem sido positivo.

- As ações têm surtido efeito com o tempo com as dezenas de torcidas LGBTQs nos sapatos de presidentes de clubes, que monitoram suas redes e sabem o que está acontecendo. É a existência dessas torcidas que tem justificado a mudança de comportamento dos clubes. O problema não vai ser resolvido amanhã ou depois. É uma missão dolorosa, mas o resultado só vem com a história e é nisso que eu acredito.

Ele complementa.

- Cada movimento é uma conquista. Tem muita coisa a fazer, sim, mas ter espaço mostra que a porta está aberta. Estou otimista, está mudando. É um processo inevitável. Os torcedores estão cansados de serem excluídos e querem participar. Tem se falado que vão resistir a nossa chegada e presença, mas não tem o que fazer, nós vamos chegar e ocupar os nossos lugares na sociedade – diz o fundador da LGBTricolor.

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